Autumn Rose

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Adeus a José de Alencar






Não quero falar de José de Alencar apenas por que faleceu e por isso prestar-lhe honras, como é muito comum, mas como forma de guardar e preservar um pouco da história deste grande homem, acima de tudo.
Natural de Muriaé, na Zona da Mata mineira, lutou bravamente para chegar até onde chegou: Empresário renomado no ramo têxtil, político serio e respeitado e principalmente, ser humano excepcional. Sua vida profissional começou aos 14 anos de idade, quando deixou o convívio com os pais e foi trabalhar como balconista numa loja de armarinhos lá em Muriaé, onde recebia mensalmente a quantia de 600 cruzeiros. Foi também viajante comercial, atacadista de cereais, dono de fábrica de macarrão, atacadista de tecidos e industrial do ramo de confecções. Teve toda a sua vida pautada por muitas lutas e muito trabalho, mas também, por grandes vitórias.
Em 1967, fundou em Montes Claros a Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas, que iria se tornar um dos maiores grupos industriais têxteis do Brasil.
Sua participação na política começou em 1994, quando candidatou-se ao governo de Minas. Em 1998 candidatou-se ao Senado, elegendo-se com quase três milhões de votos. Em 2002, compôs a chapa vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva, que foi repetida nas eleições de 2006.
Desde 1997, José de Alencar lutava contra um câncer e passou por inúmeras cirurgias e quimioterapia para combater tumores no rim, próstata e abdômen. Enfrentou momentos terríveis de dores e sofrimento, porém, nunca deixou que sua fé em Deus fosse abalada. Sempre que perguntado a respeito da doença e da possibilidade da morte respondia com muita firmeza e grande demonstração de fé que não temia. Foram coletadas muitas frases ditas por ele em entrevistas que evidenciam sua fé e honradez.
Em uma das inúmeras vezes que conversou com repórteres disse: “Tenho fé em Deus. Jesus Cristo tem um discurso, o Sermão da Montanha, e lá tem o Pai Nosso, no qual ele diz: “Seja feita a sua vontade assim na terra como no céu” porque, se Deus quiser te levar, ele leva, a hora que ele quiser. Você não morre na véspera, chegou sua vez, você vai. Agora, você tem de respeitar os médicos que cuidam de você”. Fantástica a sua lucidez e coragem!
Acredito que José de Alencar deixou um legado muito grande como empresário bem sucedido, como político sério e honrado que sempre foi, mas principalmente como ser humano. Sua força, sua coragem, seu bom humor, sua fé e esperança e sua confiança nos desígnios de Deus, fizeram dele um exemplo para toda a humanidade.
Certa feita numa entrevista quando lhe perguntaram sobre a doença e a possibilidade da morte, disse: “Não tenho medo da morte, tenho medo da desonra. Por uma razão muito simples: nossos irmãos, nossos amigos, nossa família, nosso pai, nossa mãe, nossos filhos, nossos netos, nossa esposa. Nós temos pessoas que nos estimam, que acreditam em nós. Se nos comportarmos dignamente, mesmo depois de mortos não teremos morrido para eles. Agora, se não nos comportarmos de forma que possam se orgulhar de nosso comportamento, mesmo em vida teremos morrido”. Quão digno era esse homem!
Vou transcrever aqui um trecho da carta enviada pela professora Marlene Salgado de Oliveira na qual presta a sua homenagem a José de Alencar que achei muito emocionante: ” Clarice Lispector, escrevendo a respeito do que pensa da vida, disse que “O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo”. E, em momento nenhum, José de Alencar desistiu. Nem de si nem dos outros. Enfrentou com paciência mineira, com sorriso nos lábios, com invejável humor e dignidade as intempéries que lhes foram propostas pela vida. Enfrentou a vida desejando a vida sem, no entanto, renegar a morte.”

Esse homem de fé e coragem nos deixou em 29 de março de 2011, mas permanecerá vivo na história de nosso país e em nossas memórias.

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