Dia desses recebi um exemplar de uma revista a qual sou assinante e me deparei com a frase “Não carregue todas as culpas “ o que além de me chamar a atenção, me induziu imediatamente a fazer vários questionamentos.
É certo que vivemos numa época em que a culpa é mais mortal do que nunca. Nos culpamos por tudo: Não damos a devida atenção a família, aos filhos, gastamos demais; negligenciamos com a saúde; não conseguimos tempo para frequentar uma academia enfim, é culpa e mais culpa.. Mulher não pode ter tempo livre que arruma algo pra fazer, só porque se sente culpada de estar ali deitada inerte em frente à TV quando poderia estar ‘aproveitando’ pra fazer as unhas ou arrumar a casa.
Daí, nascem as mentiras. Se duas amigas contam como perderam dois quilos malhando, a gente rapidamente inventa uma desculpa por não estar na academia. “Eu ia me matricular, menina, mas esses dias fiquei até tarde no trabalho e ontem tive que deixar meu marido no aeroporto, papo-furado, papo-furado e papo-furado...”. Tradução da dor na consciência: só eu não estou me cuidando, que vergonha!
Como demais e me exercito pouco (exercício só na clínica de fisioterapia) – e invento mil desculpas a minha consciência - , começo e não termino as coisas pelo mesmo motivo. E vou culpar quem? Mentir pro mundo vai mesmo me fazer perder os tão desejados quilos a mais? Com o tempo aprendi que eu devo e mereço ficar na minha cama de pijamas por horas a fio se essa for a minha vontade, sem me culpar, porque ter um tempo ocioso hoje é uma raridade para poucos e posso deixar as obrigações pra outro dia, sim. Tempo é ouro e faço com o meu ouro o que quiser. E não vou me sentir culpada de ter bebido cerveja demais no meio da dieta, porque, como diria o finado Jânio Quadros, ‘fi-lo porque qui-lo’. Prazeres vem minados de culpa, acabando sempre com toda a graça deles...
As revistas, a família, a sociedade exigem tanta coisa de nós que nos tornamos escravas da perfeição. Temos, temos, temos. Que ser boas profissionais, excelentes mães, donas de casa de dar inveja, bonitas, bem cuidadas e bem humoradas, como se não tivéssemos direito a defeitos, à preguiça, a jogar tudo pro alto quando ficamos de saco cheio. Como se todo mundo que se enche de atividades ao mesmo tempo conseguisse fazer todas com perfeição. Porque o que nos engorda na verdade é a culpa, o que nos tira o sono à noite é a culpa, o que nos faz sentir menos bonita ou péssima esposa é a culpa. A culpa é da culpa. E a culpa é nossa. E quem irá nos libertar senão nós mesmas?
Destrinchar as fontes de culpa tem sido um desafio dos especialistas em comportamento. Aprender a lidar com elas seria o próximo passo.
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